quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um pouco de história

Festa de Nossa Senhora dos Remédios

A festa de Nossa Senhora dos Remédios é uma festa secular que se realiza anualmente, no domingo anterior à Ascensão. Ontem como hoje, os Tortosendenses continuam a ser ardorosos devotos de Nossa Senhora dos Remédios, acorrendo em grande número à sua festa que se realiza, anualmente, no domingo anterior à Ascensão, na ermida situada num local bem aprazível e de onde se pode desfrutar um dos mais belos panoramas da região. Mas muitos são ainda aqueles que lembram, com saudade, o tempo em que a Festa de Nossa Senhora dos Remédios se realizava em quinta-feira da Ascensão, juntando a essa saudade uma certa mágoa pelo facto da festa ter mudado de dia, ainda antes da Ascensão ter deixado de ser dia santo de guarda, não encontrando, assim, justificação aceitável.

Todavia, a celebração da Festa nesta data era uma situação excepcionalíssima no país, não era um direito adquirido pelos tortosendenses, já que um dia destinado no calendário litúrgico cristão a uma celebração tão importante como a subida de Cristo ao Céu, para se encontrar novamente com o Pai, não deveria ser partilhada com qualquer outra "para que não perdesse de forma alguma o seu brilho". Assim sendo, todos os anos algum tempo antes da Festa, ia o Prior de então, reverendo Padre Ardérius, com elementos da comissão das Festas, pedir uma autorização especial ao Senhor Bispo da Guarda, "com o argumento de que era tradição a realização da festa nesse dia" e, ano a ano, acedia o digníssimo Prelado, correspondendo, desta forma, ao desejo do povo do Tortosendo.

Mas num determinado ano o senhor Prior, invocando "que a lei deveria ser cumprida e que em algum ano havia que começar", resolveu não ir à Guarda e decidiu que a festa passasse para o domingo seguinte. Não aceitou bem a Comissão de Festas tal decisão e demitiu-se, não obstando, no entanto, a que a mesma se celebrasse, por iniciativa do Pároco. Estranhou o povo tal mudança e estranhou, mais ainda, o facto de, contrariamente ao que sempre acontecera, os campos e pinhais à volta da Capela estarem vedados, argumentando os proprietários que "era dos usos e costumes da região que as sementeiras se iniciassem logo após a Ascensão", pelo que os trabalhos já haviam sido iniciados, nesse ano. Facilmente esta dificuldade foi ultrapassada nos anos seguintes, pois passou, então, a Festa a ocorrer, no domingo anterior à Ascensão, para que os romeiros pudessem merendar livremente nos campos e pinhais circundantes.

Para dar "mais pompa e luzimento" à Festa de Nossa Senhora dos Remédios constituiu-se, cerca de 1940, uma Comissão que se compunha de um Juiz, um Tesoureiro, Gerentes e outros colaboradores e durante váris anos não sofreu grandes alterações. Tinha a comissão a seu cargo, toda a organização da Festa e ainda um trabalho muito cuidadoso, o da "actualização automática do Caderno dos Mordomos e Mordomas de Nossa Senhora": havia a preocupação de inscrever imediatamente as crianças que nasciam ou aquelas outras pessoas que vinham de novo para o Tortosendo, sendo assim nomeados mordomos ou mordomas, chegando-se a 231 e 188 respectivamente, num total de 419, número bastante representativo. Entretanto já perto da Festa, a Comissão enviava-lhes uma carta-circular, apelando à sua generosidade, de modo a angariar mais fundos.

Alguns dias antes, era Nossa Senhora trazida da sua ermida, sem procissão, até à Igreja Paroquial, onde o andor era então, enfeitado com flores artificiais, sedas e cetins nas cores branca e azul, os quais haviam sido cuidadosamente guardados de um ano para outro. E era imediatamente a seguir à celebração da Missa da Hora que se dava início à única Procissão, com as imagens de Nossa Senhora e de São José. Abriam-na dois altos e pesados estandartes, um de Nossa Senhora dos Remédios e outro do Santíssimo, cada um deles levado por um homem bem possante, codjuvado por mais dois companheiros que, segurando em cordas que pendiam lateralmente, os ajudavam a equilibrar, todos eles envergando as opas pertencentes à Comissão, que ficavam ao longo do ano à guarda do Juiz.
Os Anjos espalhavam-se pela Procissão, mas sempre à frente da Nossa Senhora. Atrás deste andor seguiam pessoas com suas ofertas de: galinhas, coelhos, pombos, pães-de-ló que "eram dadas pelas pessoas que viviam bem e por todas as que faziam promessas por doenças, quando os filhos iam para a tropa ou por qualquer afronta". Também já se cumpriam promessas indo descalço ou levando velas da altura respectiva. "A procissão do dia era assim imponente". Na Capela havia missa cantada com três padres e sermão, e fazia-se a leitura dos nomes dos mordomos e mordomas.

Somente em plena 2ª Guerra, e com a intenção muito especial de se pedir pela paz, é que se resolveu fazer uma Procissão das Velas, à noite, na véspera da festa, tendo vindo Nossa Senhora em procissão o que aconteceu pela primeira vez, mas veio afinal a tornar-se na expressão máxima da devoção a Nossa Senhora. Nessa ocasião, e pela primeira vez, "o andor foi enfeitado com flores naturais (exclusivamente novelos)" que se pediram em várias casas. Nesta Procissão as senhoras vinham em duas filas, com velas e terminava com o andor de Nossa Senhora e os homens, em grande número, seguiam atrás cantando.

Festa de Nossa Senhora da Oliveira

Aparecendo no brazão de Tortosendo, uma oliveira como símbolo de que a freguesia é dedicada a Nossa Senhora da Oliveira, era interessante saber porque motivo o povo de Tortosendo optou por esta invocação, das inúmeras porque é venerada a Virgem Maria. A invocação a Nossa Senhora da Oliveira tem, em Guimarães, uma base importante e foi como passou a ser conhecida Santa Maria de Guimarães a partir do século XIV e, segundo a tradição, pelo facto de uma oliveira seca ter reverdecido três dias depois de lhe terem colocado junto dela uma cruz no pradrão comemorativo da Batalha do Salado. A notícia espalhou-se e o local começou a tomar o nome.
Em 1461 D. Afonso V numa carta refere-se "A Nossa Igreja de Santa Maria de Oliveira da Vila de Guimarães". Na história da Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, há factos curiosos que demonstram a devoção que os Reis e Senhores de Portugal lhe tinham. D. João I após a vitória da Batalha de Aljubarrota foi a Guimarães agradecer e oferecer a Nossa Senhora o loudel que vestiu na batalha, e mandou-lhe reconstruir o templo; D. Afonso V aumentou aos seus caseiros os chamados Privilégios das Tábuas Vermelhas que tinham sido concedidas por D. João em 1423 e que entre outros privilégios "Priva aos moradores deste lugar de egoas e de lhe fazerem seus filhos soldados, e de outros encargos e escorçónis".

Teria também o Tortosendo este privilégio como sucedia por exemplo com o povo da Orca? Algum senhor de Guimarães teria terras por estes lados e o privilégio existiu aqui? Seria esse facto a base para haver aqui o culto a N.S. sobre a invocação de Oliveira? Ou será apenas uma modificação de Nossa Senhora da Expectação ou Ó e que depois ficou de Oliveira? Sucede esse facto em Lourosa onde a mesma imagem é venerada com as três formas. Terá até alguma veracidade, se não esquecermos que a festa a Nossa Senhora da Oliveira em Tortosendo se realizava dia 18 de Dezembro que, no calendário litúrgico, é dedicado a Nossa Senhora da Expectação ou Ó.

Os nossos antepassados deviam ter grande devoção à sua padroeira, o que os levava a oferecerem-lhe até oliveiras, para que o seu rendimento ajudasse o culto à Nossa Senhora, como se pode constatar de uma acta de 1871, no livro de actas da confraria em que foram vendidas 34 oliveiras, que se encontravam espalhadas por diversos sítios do Tortosendo. Presentemente é pena a devoção ter esmorecido, mas nos últimos anos começou a querer revigorar com a festa em Agosto.

Escrito por Adélia Mineiro / Boletim da LAT (nº 14 - 2º trimestre 1995)

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