sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A tradição das Janeiras

No Tortosendo, as Janeiras continuam a ser cantadas de porta em porta por instituições, associações ou outros, cujos grupos se apresentam, em geral, com letras e músicas (de autores devidamente identificados) adequadas à época natalícia e apelando sempre para a solidariedade dos tortosendenses, na busca da ajuda para alguma necessidade mais premente.
O Dicionário da Porto Editora (4ª Edição) define Janeiras como “Cantigas de boas-festas por ocasião do Ano Novo”. Assim sendo, não podemos deixar de relacioná-las, com Janeiro, o primeiro mês do ano, assim chamado em honra do deus Jano (de janua = porta, entrada). Este deus ocupava um lugar muito importante na mitologia romana, sendo o seu nome invocado antes de Júpiter. Jano era o porteiro celestial, e, consequentemente, o deus das portas, que as abria e fechava, esperando-se a sua protecção na partida e no regresso. Considerado um deus dos começos, Jano era invocado para afastar das casas os espíritos funestos e não podia deixar de ser invocado no mês de Janeiro, começo do novo ano. Em sua honra aproveitariam os romanos para se saudarem uns aos outros. Parece, portanto, que as Janeiras têm origem nesses cultos pagãos, que o cristianismo não conseguiu apagar e que se foram transmitindo de geração em geração.
Mas em Tortosendo, para além dos grupos já referidos, pequenos grupos de crianças começam ainda hoje a cantar as Janeiras cerca do Natal, continuando a fazê-lo até dia de Reis. Misturam letras e músicas, mais ou menos antigas, com canções veiculadas pela televisão. Todavia estas cantigas têm ainda um cunho de originalidade e lembram as Janeiras de tempos passados que, à semelhança de outros acontecimentos do calendário, litúrgico ou não, eram esperados ansiosamente e cujas celebrações ajudavam a quebrar a rotina. E é, justamente, das Janeiras cantadas antigamente que a adiante se falará.
Juntavam-se os vizinhos, rapazes por um lado, raparigas por outro (estas quando os pais o permitiam) e ensaiavam as Janeiras, cantigas ao Deus Menino, mas para pedirem as boas-festas. De preferência, escolhiam as casas mais abastadas e mais próximas; e não podia haver demoras que as noites além de curtas eram frias. Seria, apenas, necessário acertar junto de cada casa a visitar quais as quadras que aí se cantariam, isto em função dos moradores das mesmas, que em terra pequena todos se conheciam. Se houvesse visitas, bom seria que se soubesse, para evitar omissões e cativar ainda mais a família visitada. A maior responsabilidade cabia àquele ou aquela que iria "versar", que para tal deveria possuir uma boa voz e uma boa dose de coragem para cantar a solo, alternando com o coro que cantaria o refrão.


Retirado de: http://tortosendo.com.sapo.pt

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