"A Frulact tem mais de 900 referências em produto acabado", vai dizendo João Miranda enquanto percorre a fábrica, que tem 280 trabalhadores. O preparado de fruta pode conter regulador de acidez, aromas, espessantes, açúcar e fibras ou até óleo de peixe. Tudo misturado, como se fosse um bolo, na unidade fabril.
De caixas de cartão saem figos congelados, que passam no tapete rolante para uma semidescongelação. São separados um a um e triturados em cubos. Há fruta que vem dos produtores já cortada. O passo seguinte é a ingredientação, onde se adicionam os aromas, por exemplo, seguindo a receita fornecida pelo cliente. Depois de misturado, o preparado é posto em grandes cubas de aço inoxidável que seguem, depois, para a câmara frigorífica. No laboratório de qualidade, fazem-se provas diárias dos produtos acabados com iogurte. O sabor tem de ser sempre o mesmo.
Por semana saem, em média, desta unidade 20 camiões que transportam, no total, 400 toneladas. França e Espanha são os principais destinos da produção, mas grande parte dos iogurtes que são vendidos em Portugal tem preparados de fruta da Frulact, garante João Miranda.
Com o conhecimento adquirido na transformação e processos, o passo mais lógico para a empresa foi, o ano passado, apostar numa marca própria de venda directa ao consumidor. A Fru ainda está apenas no mercado nacional, em forma de doces gourmet e premium, smoothies, e bebidas concentradas para diluição que se vendem em algumas grandes superfícies.
"É uma diversificação. Queríamos alargar a cadeia de valor", explica João Miranda. O conhecimento prévio dos mercados onde a Frulact já se encontra ajuda, e 2010 será "o ano" da Fru, que deverá começar a ser vendida noutros países. Em França, a entrada será concretizada em 2010.
É das fábricas da Frulact que sai a fruta enriquecida com cálcio para os iogurtes
Escolher um iogurte deixou de ser uma tarefa fácil. Há com ou sem pedaços, cheios de cereais ou de chocolate, naturais ou de aroma, líquidos ou cremosos. As novidades invadem as prateleiras a grande velocidade e quem fornece a indústria tem de estar sempre um passo à frente: os produtos têm, cada vez mais, edições limitadas e um tempo de vida curto. Inovar é, por isso, uma questão de sobrevivência.
Foi da área de Desenvolvimento e Aplicação da Frulact, empresa familiar da Maia, que saíram os preparados de fruta enriquecidos com cálcio, extractos de plantas e ómega 3 ou os preparados de legumes para a indústria dos lacticínios. A equipa de 22 trabalhadores deste departamento tem de "dominar a tecnologia do cliente" e antecipar as suas vontades, diz João Miranda, de 44 anos, presidente da única empresa em Portugal que faz preparados de fruta para a indústria dos lacticínios, pastelaria industrial, gelados e bebidas.
As seis unidades de produção que tem em quatro países diferentes produzem 45 mil toneladas, mas, depois de um ano de quebras acentuadas - o consumo dos seus produtos caiu entre 18 e 20 por cento - a empresa prepara-se para investir dois milhões de euros num laboratório de inovação e tecnologia, desenvolvimento e aplicação, instalado na Maia, com cerca de mil metros quadrados. "Servirá para apoiar o cliente, antecipar as tendências de mercado e encurtar o time to market. É mais fácil para os clientes deslocarem-se à Maia [onde está a sede da empresa] e saírem com um produto desenvolvido debaixo do braço", explica. O objectivo deste investimento de dois milhões de euros é manter esta estrutura em Portugal, apesar de 95 por cento do negócio da Frulact ser feito fora do país.
Desde que foi fundada, em 1987, que a investigação propriamente dita é entregue às universidades. "Fazemos projectos em conjunto, específicos para o que pretendemos [e aplicamos a inovação] que tenha valor acrescentado", afirma João Miranda. Destas parcerias saíram, por exemplo, novos métodos de detecção de pesticidas ou o desenvolvimento de corantes naturais para a indústria alimentar.Internamente, enquanto uns trabalham constantemente na antecipação das necessidades dos clientes, outros dedicam-se, no prazo de dois a três anos, a estudar as futuras tendências de produtos ou processos. "Anualmente cerca de dez por cento do volume de negócios desaparece devido ao fim de ciclo de produto. Temos de os voltar a ganhar. Ou temos capacidade de gerar novos produtos ou vamos à procura", diz João Miranda. No último ano, saíram do laboratório, pedaços de fruta para iogurte líquido, processo complexo onde se tem de garantir a textura e tamanho correctos para que a futa possa ser engolida.
Apostas em França e Itália
A fábrica de Tortosendo, na Covilhã, está actualmente a laborar a três turnos. Foi inaugurada em 2006 para facilitar a entrada da Frulact no mercado francês, onde, mais tarde, a empresa comprou a unidade da GBP (Granger Bouguet Pau), em Vichy, por cinco milhões de euros, numa estratégia de proximidade com os clientes. Em Julho do ano passado, foi adquirida outra fábrica em França, desta vez do Kerry Group, em Apt. Para ter "uma dimensão crítica", a empresa decidiu transferir a produção de Vichy para Apt, num processo criticado pelos trabalhadores e que ainda corre nos tribunais. João Miranda explica que o objectivo, agora, é "ter espaço para crescer" e avançar para o Benelux e Itália.
A primeira tentativa de internacionalização da Frulact não correu bem. Em 1999, a empresa chega a Marrocos "para servir uma fileira de indústrias do sector alimentar e o mercado de grande consumo", lê-se na página oficial. Mas, com a fronteira terrestre com a Argélia encerrada, os problemas foram muitos. "Em 2000 deslocalizámos para a Tunísia através de uma parceria. Três anos depois, fomos surpreendidos pelo nosso parceiro e por problemas que nos levaram a ter de vender a participação", conta.
Em 2008 a Frulact regressa a Marrocos e a fábrica serve de plataforma para o Norte de África e Médio Oriente. No mesmo ano também abre outra unidade na Argélia, que só abastece o mercado local. No total, são seis unidades - três em território nacional - que exportam produto para grandes multinacionais como a Danone, por exemplo. Este ano a Frulact quer apostar na venda directa ao consumidor, depois de, em 2009, a marca Fru ter dado os primeiros passos no mercado português.
Retirado de: Jornal Público / 21.02.10 / 1ª parte - Jornal Público /21.02.10 / 2ª parte